Como equilibrar carteira de renda fixa e variável com a queda de juros

Com queda de 0,5% na taxa básica de juros do Brasil, a Selic, na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), muitos investidores podem pensar que acabou para a renda fixa e que agora é a vez da variável. Afinal, em seu comunicado, o BC reiterou que o juro básico deve continuar caindo pelos próximos meses, o que tende a reduzir a rentabilidade dos ativos atrelados à Selic e ao CDI. Mas de acordo com Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, a lógica nunca é de renda fixa ou renda variável, mas de renda fixa e renda variável. O que vai mudar nos diferentes momentos da economia, segundo ele, é a proporção de cada uma delas dentro das carteiras.

 

Segundo Hulisses Dias, analista da Planejar, a rentabilidade dos investimentos de renda fixa é alterada antes mesmo das decisões da política monetária. "A trajetória da renda fixa no curto e no médio prazo está altamente relacionada ao direcionamento que a Selic tem, mas os juros futuros são negociados como qualquer outro ativo", afirma. Por isso a alteração na rentabilidade não acontece com a decisão do Copom, mas meses antes da reunião, através das expectativas do mercado, dos dados da economia e dos sinais das autoridades. Isso porque, quando se compra um ativo do Tesouro ou um CDB de curto, médio ou longo prazo, o rendimento desse investimento não é baseado totalmente na Selic de hoje, mas na que está prevista para o vencimento do título. "Ou seja, quando a taxa básica de juros é elevada, mantida ou reduzida, ela reflete a algo que o mercado já negociava e previa", explica.

 

Dias conta que Warren Buffett, o maior investidor pessoa física do mercado de ações americano, correlaciona o funcionamento da taxa de juros com a lei da gravidade quando se fala do preço dos ativos da renda variável. E, se a gravidade diminui, as coisas ficam mais leves e alcançam patamares mais altos. "Empresas com mais endividamento e sensibilidade à atividade econômica vão responder se valorizando mais, enquanto as que têm uma estrutura financeira mais conservadora vão se beneficiar em menor escala", reitera Dias. Afinal, os juros básicos não mexem só com o CDI: todo tipo de crédito é alterado, inclusive o cedido às companhias da bolsa. Ao mesmo tempo, se o crédito está mais barato, a população tende a comprar mais, o que favorece os setores econômicos ligados ao consumo.

 

É importante lembrar que investimentos de renda fixa não são todos iguais. Portanto, quando há redução da taxa básica de juros, este tipo de ativo é afetado de diversas maneiras, como detalha Alex Nery, professor da FIA Business School. "Para os títulos pré-fixados ocorre uma valorização dos seus preços no mercado, pois eles irão remunerar o investidor por uma taxa mais alta do que os novos títulos emitidos em um cenário de taxas de juros reduzidas. Portanto, os títulos pré-fixados existentes se valorizam, já que a demanda por eles aumenta e os investidores se mostram mais dispostos a pagar um valor maior no mercado secundário", destaca. Já nos títulos pós-fixados, o efeito da redução da taxa de juros pode variar. "Para aqueles indexados ao CDI, por exemplo, há uma redução na rentabilidade dos novos títulos, pois com a Selic mais baixa, os novos ativos emitidos passarão a oferecer taxas de retorno também mais baixas", afirma.

 

Se um investidor comprar um novo título após a redução da taxa de juros, ele provavelmente receberá menos rendimentos em comparação com os títulos emitidos anteriormente. Para Nery, é natural esperar uma redução da demanda por esses títulos. "Contudo, com a redução da Selic também é esperado um aumento da inflação. Em teoria, a redução da Selic pode estimular a demanda por crédito e aumentar os gastos públicos e privados, o que pode levar a pressões inflacionárias. Dessa forma, a expectativa é de aumento na demanda por títulos de renda fixa indexados à inflação", diz o professor. "Mas as condições econômicas atuais permitem projetar uma redução tanto da Selic quanto do IPCA de maneira que não deve ocorrer, necessariamente, um aumento da demanda por títulos indexados à inflação", completa.

 

Com a redução da Selic, é esperado um aumento do apetite por risco dos investidores. Na visão de Nery, a redução dos retornos dos investimentos de menor risco, como os títulos de renda fixa, faz com que os investidores fiquem mais dispostos a assumir riscos em busca de maiores retornos. "Isso pode impulsionar o mercado de ações. Contudo, é importante destacar que nem todos os setores reagem da mesma forma a uma redução na Selic. Segmentos que dependem fortemente de financiamento, como o imobiliário ou o de construção civil, por exemplo, podem ser particularmente beneficiados", ressalta. O professor ressalta que os setores da bolsa podem ser impactados positivamente com a redução da Selic no curto prazo. Confira.

 

Setor imobiliário


A compra e venda de imóvel é particularmente sensível às mudanças no juro terminal no curto prazo, pois taxas reduzidas tornam os financiamentos imobiliários mais acessíveis, o que pode impulsionar a demanda por compra de imóveis e financiamentos para construção.

 

Construção Civil


As empresas desse ramo podem se beneficiar com a redução dos custos de financiamento para novos projetos e com a redução das taxas dos empréstimos para aquisição de materiais de construção mais reduzidos.

 

Bancos


As instituições financeiras podem ser afetadas diretamente, uma vez que suas margens de lucro em empréstimos podem ser comprimidas quando as taxas de juros caem. No entanto, eles também podem ganhar com um aumento na demanda por empréstimos e financiamentos.

 

Consumo durável


Setores que atuam na comercialização de produtos de consumo durável, como eletrodomésticos e eletrônicos, podem observar um aumento nas suas vendas, na medida em que os consumidores tenham melhores condições para financiar suas compras diante de taxas de juros reduzidas.

 

Educação


Serviços educacionais, como cursos e treinamentos, podem ser financiados. Assim, diante de taxas de juros menores, pode ocorrer um aumento na demanda do setor.

 

 

 

 

 

 

Fonte: Adaptado de Revista Amanhã e B3

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