Quais títulos públicos podem ser escolhidos num cenário de juros altos?

Sombra e água fresca? Para os gestores de renda fixa, os juros e inflação altos não são sinônimo de tranquilidade. Um IPCA perto dos 10%, no acumulado de 12 meses, e um CDI de 13% não são suficientes para garantir os rendimentos que o investidor espera. A volatilidade no cenário externo, com a indefinição sobre o teto dos juros nos Estados Unidos, e a turbulência eleitoral no cenário interno trouxeram muitos altos e baixos para os ativos da classe.

 

Nas palavras de um experiente gestor de renda fixa: "juros de 2% são um pesadelo, juros de 8% até me deixam confortável, mas juros de 13% me tiram o sono". Uma Selic no patamar atual não é bem um facilitador do trabalho dos gestores, porque além de adicionar volatilidade às expectativas futuras, o crédito caro ainda complica a situação das empresas, e comprar títulos de crédito se torna uma tarefa mais seletiva.

 

Para navegar em tempos incertos, a receita dos gestores de fundos (e dos investidores) tem sido a busca por ativos mais seguros e de vencimento mais curto. Os dados divulgados nesta semana pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), referentes ao mês de julho, são um raio-x do crescimento desigual da renda fixa.

 

Embora os fundos da classe tenham captado mais de R$ 150 bilhões no ano, praticamente todo o saldo positivo pode ser creditado ao crescimento de apenas quatro categorias do segmento.

 

Títulos públicos e high grade

 

Segundo os dados da Anbima, as classes que mais captaram recursos na renda fixa entre janeiro e julho foram, basicamente, fundos de menor duration (ou seja, com menor prazo para que o investimento atinja o rendimento-alvo), e fundos de risco soberano ou grau de investimento. Veja no anexo o desempenho dos fundos de renda fixa até julho.

 

Os fundos que levam a classificação de "soberano" são, basicamente, os que investem em títulos públicos. A estratégia de buscar principalmente os de baixa duração, que representa a classe com a segunda maior captação do ano (R$ 55 bilhões) conversa com uma avaliação praticamente unânime entre os gestores: as taxas longas estão pagando praticamente o mesmo que as taxas curtas.

 

"Teremos um mercado de juros mais volátil no curto prazo, com a reprecificação de juros futuros, a depender do cenário. A questão é que, agora, há pouco prêmio nos títulos longos. A NTN-B [Tesouro IPCA+] com vencimento em 2050 tem praticamente a mesma taxa da NTN-B com vencimento em 2030. Não faz sentido tomar mais risco por um prêmio tão pequeno", defendeu Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual.

 

A outra face da moeda dessa estratégia está, justamente, no saldo negativo de R$ 13 bilhões dos fundos de renda fixa soberanos de duração alta, que investem em títulos públicos mais alongados. Parte desse registro tem a ver, também, com o fato de que, em julho, as NTN-B com vencimento após 2040 tiveram rentabilidade negativa de 4%, e a maior parte deles acumula prejuízo desde o início do ano.

 

No entanto, a mudança recente no cenário de inflação, com os índices de preços de julho registrando queda e os de agosto seguindo pelo mesmo caminho, já serviu para "acomodar" a curva de juros. Sendo assim, os títulos prefixados e os atrelados ao CDI deixam de trazer grandes oportunidades. O grande call dos gestores tem sido em ativos cujo rendimento está ligado à inflação.

 

Por outro lado, especialistas alertam que os fatores de instabilidade no cenário, como as próprias eleições, podem desequilibrar a equação. "Se o próximo presidente decidir colocar a caneta de gastos para funcionar, a queda da curva longa de juros pode mudar", alertou Luis Barone, CIO da Galapagos Capital.

 

Embora as pesquisas eleitorais apontem para a vitória do candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, a avaliação dos gestores é que ainda há muito chão até o segundo turno, e que a disputa com Jair Bolsonaro, candidato a reeleição pelo PL, vai ser mais acirrada. O melhor, nesse caso, é buscar proteção.

 

Mesmo com taxas de retorno mais espremidas, os gestores de renda fixa tem optado por investir em empresas maiores, com notas mais altas de crédito – o chamado mercado high grade. Os fundos de duração baixa e de duração livre de grau de investimento captaram R$ 49 e R$ 62 bilhões, respectivamente, desde janeiro.

 

"O que esperar do próximo governo é incerto, mas o que parece precificado é que, de uma maneira ou outra, teremos uma Selic mais alta por mais tempo. Embora as empresas estejam mais preparadas, principalmente os bancos e grandes companhias, eventos de crédito não estão descartados. É muito ruim para o país um quadro alongado de juros mais altos, pois testa a capacidade das empresas", avaliou Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy.

 

Ele avalia alguns setores, como as empresas ligadas ao mercado consumidor e o varejo, mais expostos aos riscos dos juros mais altos. Por isso, a escolha da empresa tem sido a de setores mais tradicionais, como infraestrutura. Essas empresas, segundo Ono, estão mais protegidas, pois reajustam suas tarifas de acordo com a inflação.

 

 

 

 

Fonte: Adaptado de Exame.com

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